Os filhos são responsabilidade de quem?
- Marilí Silva
- 18 de out. de 2016
- 3 min de leitura

As redes sociais e os meios de comunicação propiciam ótimas oportunidades de levantarmos discussões acerca de assuntos que envolvem família. Com o mercado de trabalho acessível às mulheres, alguém sobrou nesta história: os filhos.
Mesmo com a maternidade tardia, as mulheres estão lutando para manter o padrão de vida adquirido antes da chegada dos filhos e continuam em busca da remuneração. Outras se sentem cobradas por terem seus diplomas. São “pressionadas” a fazer valer o certificado de conclusão de curso. Afinal, estudou para quê? Para esfregar o chão de casa?
Chegam os filhos e, na maioria dos lares, alegria da família é imensa. A mãe se deleita com a “licença maternidade”, apega-se tanto ao filho que cogita afastar-se das atividades fora de casa. Eis que entram nesta história os personagens que, nos últimos anos, tornaram-se essenciais para manutenção da família moderna: os avós.
E então, “os filhos são responsabilidade de quem?”. As mídias dão uma mãozinha, influenciando opiniões; mostram avós felizes da vida cuidando dos netinhos. E as opiniões se dividem... Uns acham que avós não têm que pegar para eles mais essa missão. Outros dizem que eles adoram cuidar dos netinhos e que isso lhes é a alegria de viver. Há mães que preferem dar uma ajuda financeira aos pais para cuidarem de seus filhos ao invés de pagarem uma babá. Torna-se uma espécie de ajuda mútua. Deparamos-nos com depoimentos de avós que jamais deixariam seus netos irem para uma creche. E também existem pais que ainda acham que ninguém educa seus filhos como eles mesmos, mas que em casos de necessidade, preferem que os avós realizem essa tarefa em sua ausência.
Os noticiários mostram que, na idade da aposentadoria, homens e mulheres passam a se sentirem inúteis, e cuidar dos netos é uma forma de ocuparem bem seus dias. Avós declaram que a chagada dos netos em casa propiciou a cura da depressão. Dizem também que é uma segunda chance de amar os netos de maneira mais intensa com a qual não conseguiram amar os filhos, devido à vida produtiva que levavam.
Essas mães trabalhadoras, também não estão conseguindo exercer a maternidade em tempo integral e já sabemos através dos avós que isso futuramente irá recair como cobrança. E o ciclo recomeçará... Avós que depositam em seus netos todo o amor em débito que deveriam ter dedicado aos filhos.
Mas, ainda existem avós que, embora amem muito seus netos, não querem pegar para si esta responsabilidade. Avós que acham que chegou a hora de aproveitar a vida, viajar, se divertir, aprender coisas novas, fazer tudo que não conseguiram enquanto estavam ocupados trabalhando. Ou avós que simplesmente não querem fazer nada, apenas descansar, andar devagar, dedicarem-se a uma vida de oração, ou se engajarem nas atividades da igreja.
E os filhos? Fala-se muito das dificuldades dos pais em cuidarem dos filhos e dos prazeres dos avós em cuidarem dos netos, mas ninguém perguntou aos filhos/netos, o que eles prefeririam. Avós suprem perfeitamente a ausência dos pais na vida dos filhos? Será que os filhos carregam para a vida toda a falta que sentiram da mãe ausente? Em que influenciará na formação pessoal de uma pessoa este atual modelo de amar, educar e cuidar? Existirão lacunas?
Seja como for, todos devem dar o melhor de si para que a família resista a tanta pressão. Não paramos para perceber, mas existe uma engenharia por trás de tudo isso. Todas essas dificuldades enfrentadas pelas famílias foram muito bem pensadas e planejadas por interesses políticos. Se por um lado a família vive sobrecarregada e parcialmente diluída, por outro lado há quem está lucrando com tudo isso.
Precisamos ponderar muito bem todas as situações. Qual é o preço que estamos pagando, em deixar nossos filhos em nome do trabalho? Ou o que estamos ganhando com isso? Todos ganham? Quem ganha e quem perde? Como anda minha saúde e a saúde de minha família em meio a tanto desgaste? Qual tem sido a minha qualidade de vida e de tempo com meus filhos? Como seria se as mães estivessem integralmente cuidando da família?
Há uma espécie de amor que só os pais podem dar. O amor dos avós pelos netos é diferente do amor dos pais pelos filhos. Filhos agem com avós diferentemente do modo como agem com seus pais. Sabemos perfeitamente que avós são mais permissivos com netos do que eram com os filhos...
Para fechar essa reflexão, cito Papa Francisco:
“Entre todas as coisas aquilo que mais pesa é a falta de amor. Pesa não receber um sorriso, não ser recebido. Pesam certos silêncios. Por vezes, também em família, entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos. Sem amor, o esforço torna-se mais pesado, intolerável". Encontro de Famílias em Roma em outubro de 2013.
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